sexta-feira, 9 de fevereiro de 2018

Você só quer falar baixinho
Como se fosse um pequeno segredinho
Que tem passado a vida assim...
Se sentindo, lá no fundo,
um pouco sozinho.

Cervejas nas sextas
Às vezes até nas quintas
As risadas são todas sinceras
Tem os karaokês e as dancinhas
Alguns beijos roubados
Alguns outros negados

Mas ainda assim
Quando bem quietinho
Voltando para casa
Dentro da madrugada
Com os olhos cansados

Depois de conversas cessadas
Das cinco ou dez cervejas
Dos abraços das meninas
Só o silencio no carro

Ao abrir a porta da garagem
Uma chuva rala molha a tua cara
Bem de mansinho
Para te lembrar de que cê tá vivo
E de que tem saudade
Ou vontade de 
Sabe-se lá o que,
Não sabe bem dizer.

Deita os cabelos úmidos no travesseiro
A casa inteira dormindo
Pai, mãe, cachorro, 
Sente a certeza de que viver é bom,
Não há duvidas:
viver é tão bom!, pensa consigo.

E aí fecha os olhos,
E aperta um travesseiro entre os braços,
E outro entre as pernas,
Pensa logo nela - a que não existe,
Impalpável,
Distante,
Hermética,
Impossível,
Meio holograma,
Meio fantasma.

E com os olhos fechados, bem apertados
Ela ganha logo braços, pernas, pele, cheiro,
E o abraça de volta,
Agarra seu rosto entre as mãos e o beija,
Põe a mão por dentro de sua camiseta,
Dedos caminhando por suas costas,

No pescoço dela ele afunda o nariz,
Beija suas orelhas, 
E ali, no seu lar invisível, ele enfim se sente acolhido
E sussurra o segredo:
"contigo eu não me sentiria mais tão sozinho".

Adormece.