- Hoje eu tô só pela novela, dona Teresa - disse o motorista do ônibus para a passageira que subia os degraus do veículo.
- Eu também, tô até ansiosa - respondeu a mulher, fazendo uma careta boba, arqueando as sobrancelhas enquanto se acomodava em um banco logo atrás da cadeira do motorista.
- Eu também, tô até ansiosa - respondeu a mulher, fazendo uma careta boba, arqueando as sobrancelhas enquanto se acomodava em um banco logo atrás da cadeira do motorista.
- Ver novela, nada. Credo! - intrometeu-se o cobrador, gritando alto lá do seu assento - Vai fazer uma capina, Zé!
- Quê isso, maninho. Aí é judiaria demais. Eu morro e não levo nada pra cova.
O cobrador não respondeu, foi pego de surpresa. Soube de imediato, sem nem precisar pensar, que o colega tinha uma certa razão. Entendeu de uma vez só, como se fosse um soco, que os prazeres simples tinham valor - ver novela talvez fosse um deles. Mas era implicante, não podia sair por baixo, então tentou argumentar:
- Tá certo, mas essas novelas são de matar, viu...É cada coisa...não dá, não.
- Pois é... mas a gente gosta. - riu a mulher, sem se sentir nem um pouco ofendida.
O cobrador não falou mais nada.
- Mas que loucura, né, Zé?!?! - prosseguiu a mulher - Tu viu ontem, aquela ordinária da Fernanda?
O cobrador não falou mais nada.
- Mas que loucura, né, Zé?!?! - prosseguiu a mulher - Tu viu ontem, aquela ordinária da Fernanda?
- Pois eu vi!!!! - respondeu o motorista, empolgado. - Rapazzzz, mas que mulherzinha desgraçada, viu?!
- É demais, mas tem muita gente igual aí fora e a gente nem sabe.
- Mas com certeza, dona Teresa! Até pior!
O cobrador não se intrometeu mais, não tinha argumentos: até porque ele mesmo odiava capinar.